Contexto SAGRADAS ESCRITURAS, março, 2020


ICorinthios 10

E não tentemos a CHRISTO
E não murmureis, como tambem alguns delles murmurarão, e perecerão pelo destruidor.
E todas estas cousas lhes sobreviérão em figura, e estão escritas para nosso aviso, em quem ja os fins dos seculos são chegados.
O que pois cuida que está em pé, olhe que não caia.
[Almeida, 1850]

[62725]


Conhecendo a Bíblia - Tiago

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Tiago (o Insurgente)

Se você não entendeu o porque, aqui você via entender. A epístola de Tiago foi o primeiro texto radical Cristão, e o porquê que Martinho Lutero o atacou e o rejeitou.

A tradição diz que o autor foi “o irmão do Senhor” e que ele escreveu a carta aos Judeus que moravam fora da Judéia. A maioria dos estudiosos data a carta com aproximadamente 30 anos após a Criação da primeira Igreja. Alguns dizem que foi escrita aproximadamente em 45d.C.

Tradição é uma força poderosa não é? Tradição sempre carrega mais influencia do que o senso comum. Se você é daqueles que acredita mais em tradição do que no senso comum, por favor, nem perca tempo lendo esse artigo. Mas se você se considera com a mente aberta para encarar a verdade, leia o artigo.

A maioria das suposições sobre o Livro de Tiago estão erradas. Elas não são baseadas nem na própria carta e nem em evidencias históricas. E o pior de tudo, essas falácias (argumentos inconsistentes) não são apenas resultado de ignorância, elas são tentativas de negar e acobertar um “ segredo sujo”. Vamos discutir isso mais pra frente. Primeiro vamos considerar as evidencias objetivas.

QUEM ESCREVEU e QUANDO?

O autor apenas se descreve como “Servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo”. Nada mais além disso. Ele não faz nenhum referencia a sua identidade, autoridade, ou lugar de residência como Paulo, Pedro e João fizeram em suas cartas.

A Tradição Cristã presume que Tiago era “o irmão de Jesus” baseado simplesmente em outra presunção da tradição cristã, que tudo no Novo Testamento foi escrito por um apostolo, ou bispo, ou alguém importante do clero. A tradição Cristã até presume que o sistema “Clero-Leigos” (ler o post anterior para entender) foi parte da fundação da primeira Igreja.

Mas Claro, podemos ver pelo que Paulo escreveu em 1Coríntios 14.26-32 que a distinção entra Clero e Leigos não era parte da fundação da Igreja. De acordo com Paulo, todos os discípulos eram esperados a tomar sua identidade como pregadores seriamente, e cada um trazer um Salmo, um hino, uma revelação e assim por diante, e ele encorajava todos a profetizar.

Podemos dar suporte a isso com Hebreus 3.6, que nos fala que a definição da característica da Casa de Deus é traduzido da palavra grega “Parrhesia” como “confiança” do povo. Parrhesia também significa liberdade de expressão, ousadia. Desde o primeiro século quando foi introduzido esse sistema nicolaíta nas Igrejas, o povo tem liberdade de expressão, ousadia ou confiança?

Então não existe razão, além da tradição Clero-Leigos, para pensarmos que o Tiago que escreveu a epistola como sendo um apostolo ou líder da primeira Igreja. Mas temos várias razões para acreditar que, como muitos profetas do velho testamento, ele foi um insurgente movido pelo Espírito Santo para expressar suas preocupações.

A data de 45-63 d.C que normalmente é dada a carta de Tiago também é uma presunção, baseado na presunção que Tiago “o irmão do Senhor (Jesus)”, que supostamente morreu em torno de 63 d.C, é o autor. Alguns estudiosos dizem que foi antes disso, argumentando que a condição espiritual que Tiago mostra na carta é um extremo contraste com o que os discípulos apresentavam no tempo de Pentecoste. Mas primeiro vamos considerar quem recebeu essa “epistola”.

PARA QUEM a Epístola foi escrita

A sentença de abertura de carta diz “As doze Tribos que se encontram na Dispersão”. Os tradicionais por essa frase acham que “o irmão do Senhor” escreveu uma carta geral para todos os Judeus vivendo fora da Judéia. Mas existe um problema em presumir que essas “Doze Tribos” são as reais tribos de Israel. Apenas duas tribos, Judá e Benjamim, com alguns poucos Levitas ainda retinham alguma identidade como Israelitas. As outras dez tribos tinham sido engolidas por outras culturas, e seria impossível escrever uma carta para as reais Doze Tribos. Alem disso, o termo “Doze Tribos” dificilmente se referia aos Judeus (Tecnicamente, apenas uma tribo), e dificilmente poderia ter sido escrita para os Judeus que acreditavam em Jesus, pois eram poucos.

Na verdade, outras referencias no Novo Testamento deixam claro que o termo “Doze Tribos” fazia referencia a toda a Igreja, uma nação espiritual formada por ambos Judeus e Gentios. Por exemplo, “a Noiva do Cordeiro” em Apocalipse é representada por uma Cidade com doze portões, cada portão sendo uma das doze tribos de Israel [Apocalipse 21.9-12].

Também, no discurso de Paulo para o Rei Agripa [Atos 26.6-7] ele disse que, por manter a promessa feita por Deus a Abraão, as “doze tribos” de qual Paulo fazia parte estava servindo a Deus fervorosamente dia e noite, e isso era o porquê de os Judeus estarem acusando ele.

Com essas evidencias fica claro que as “Doze Tribos” a quem Tiago estava escrevendo é a mesma que a “comunidade de Israel” em Efésios 2.12, formadas por Judeus e Gentios, que se transformaram em uma só nação pelo sangue de Jesus. Mas existiam alguns problemas nessa comunidade, e isso foi o que moveu Tiago a escrever a carta.

PORQUE ele escreveu

Tiago viu que essa “nova nação”, a qual Jesus tinha comprado com seu próprio sangue [Apocalipse 5.9-10], estava prestes a ser destruída. Aqueles que tinham sido unidos através da pureza do sangue de Cristo estavam agora se tornando alienados uns aos outros, porque o sangue de Cristo não estava mais cobrindo seus pecados. E a razão pela qual seus pecados não estavam mais sendo cobertos é que eles não estavam mais confessando e principalmente se arrependendo de seus pecados [1João 1.9]. A Igreja estava com um grande problema, e não era apenas uma ou duas comunidades, como por exemplo, Corinto e Laodicéia, mas toda a nação (as Doze Tribos). Existia um contraste chocante entre a condição da Igreja para que Tiago estava escrevendo e a qualidade de vida dos discípulos no tempo do Pentecoste.

Diferentemente da congregação descrita em Atos 4:32, em que eram “um coração e uma alma”, Tiago mostrava uma Igreja que era dividida por conflitos, em grande parte pelos pobres invejando os ricos [Tiago 4.1-3]. Essa inveja era baseada em parte pela falha dos ricos em suprir as necessidades dos pobres [Tiago 2.14-17], mas tanto a inveja dos pobres como a soberba dos ricos poderiam ser vistos como amizade e amor pelo mundo [Tiago 4.4], a qual Tiago condenava como Adultério Espiritual. Não apenas os Ricos estavam negligenciando as necessidades dos pobres, mas os pobres estavam sendo discriminados, enquanto os ricos ganhavam atenção. Tiago condenava essa pratica como sendo inconsistente com a fé em Jesus [Tiago 2.1-13].

Apesar desses pecados, para Tiago isso não justificava a inveja. Ele condenava tanto a inveja quando a ambição egoísta como demoníaca [Tiago 3.14-16], especialmente quando essas atitudes prejudicavam seus irmãos [Tiago 4.11; 5.9]. Para aqueles que não refreassem sua língua, e hipocritamente abençoassem a Deus enquanto amaldiçoava um irmão feito a imagem de Deus, Tiago declarava que a religião dessa pessoa era em vão [Tiago 1.26; 3.8-12]. Mas ainda assim. Ele reservou suas palavras mais duras para aqueles que enriqueciam descontroladamente, especialmente por meios injustos:

"Ouçam agora vocês, ricos! Chorem e lamentem-se, tendo em vista a desgraça que lhes sobrevirá.
A riqueza de vocês apodreceu, e as traças corroeram as suas roupas.
O ouro e a prata de vocês enferrujaram, e a ferrugem deles testemunhará contra vocês e como fogo lhes devorará a carne. Vocês acumularam bens nestes últimos dias.
Vejam, o salário dos trabalhadores que ceifaram os seus campos, e que vocês retiveram com fraude, está clamando contra vocês. O lamento dos ceifeiros chegou aos ouvidos do Senhor dos Exércitos.
Vocês viveram luxuosamente na terra, desfrutando prazeres, e fartaram-se de comida em dia de abate.
Vocês têm condenado e matado o justo, sem que ele ofereça resistência.
Portanto, irmãos, sejam pacientes até a vinda do Senhor. Vejam como o agricultor aguarda que a terra produza a preciosa colheita e como espera com paciência até virem as chuvas do outono e da primavera.
Sejam também pacientes e fortaleçam o seu coração, pois a vinda do Senhor está próxima
" [Tiago 5.1-8].

Mas o tópico pelo qual a Epístola de Tiago é lembrada é sobre Fé versus Obras. Mas isso não foi apenas um assunto doutrinal geral que ele teologicamente abordou. Ele estava sendo especifico e contra a falta de amor que a Igreja estava mostrando com os necessitados e dando favoritismo aos ricos [Tiago 2.8-10]. Ele estava alarmado em ver que era tão difícil encontrar esse “amor” que era tão comum no inicio da Igreja. Ele estava perplexo com a complacência daqueles que estavam falhando em suprir as necessidades dos irmãos necessitados e ainda assim professarem terem fé em Deus [Tiago 2.19-20]. Ele até desafiava o Clero que se auto-proclamavam como estando salvos [Tiago 2.14-17]. A chamada Fé, sem obras de amor, era para Tiago não apenas vã, mas morta [Tiago 2.17, 26].

O Cenário da Igreja retratado por Tiago é tão diferente pelo retratado no livro de Atos que leva os leitores da Bíblia a se perguntar se esses dois livros (Tiago e Atos) realmente estavam se referindo ao mesmo grupo (a Igreja).

Em Atos, os irmãos eram devotos aos ensinos dos apóstolos, onde juntos, eram uma mente, um coração e uma alma, tomavam suas refeições juntos, dividiam tudo o que possuíam com seus irmãos, e até vendiam tudo o que tinham para suprir as necessidades dos irmãos, ao ponto de que nenhum deles fosse necessitado [Atos 2.42-46; 4.32-35].

Em Tiago, ao contrario, os irmãos ouviam os ensinos dos apóstolos, mas não praticavam esses ensinos [Tiago 1.22; 4.17], continuamente iam de um lugar para o outro em busca de ganhos financeiros [Tiago 4.13], faziam divisão por status econômico (Tiago 2:2-4), e até difamavam e lutavam uns com os outros [Tiago 4.1].

A Igreja para qual Tiago estava escrevendo tinha se degenerado muito além da condição das Igrejas mostradas no Novo Testamento. A carta de Paulo aos Coríntios (em torno de 55 d.C) falava da tolice e prazeres da carne de uma comunidade imatura, mas dava claramente a direção de como mudar para crescerem em Cristo. As cartas de João para as Igrejas em Apocalipse (em torno de 90 d.C) listavam as coisas que cada uma fielmente fazia, e também as coisas em que elas tinham errado, e mais uma vez, dava os alertas e os caminhos para eles enfrentarem as conseqüências. Tiago, no entanto, estava escrevendo para todas as Igrejas, mostrando uma condição espiritual virtualmente idêntica aquela a dos fariseus ao qual Jesus tirou seus seguidores. Para a Igreja ter chegado a esse ponto, Tiago provavelmente não poderia ter escrito sua carta antes do inicio do segundo século.

Epístola Geral ou Tratamento de Choque?

Diferentemente das escritas de Paulo e João, que davam direções de autoridade para Igrejas especificas, Tiago mostrava problemas gerais das Igrejas e fazia um apelo aos indivíduos a obedecerem aos mandamentos de Jesus. Parecia que Tiago não tinha esperança em fazer a Igreja voltar a como era no tempo do Pentecoste. João, por outro lado, especificamente comandava aos Efésios a se arrependerem e fazerem as “obras de amor” que eles faziam no começo, pois se eles não fizessem, o seu Candeeiro (sua validade como Igreja perante Cristo) seria tirado [Apocalipse 2.4-5]. Mas Tiago não estava tentando deixar qualquer candeeiro em pé. As coisas já tinham se degenerado além desse ponto, e a única coisa que ele poderia fazer era simplesmente alertar os ricos (Clero) nas congregações sobre o julgamento que estava por vir sobre eles [Tiago 1.10], e apelava a cada um dos irmãos que eram oprimidos pelos ricos a aguentar o sofrimento pacientemente e a continuar seguindo os ensinamentos de Jesus [Tiago 1.9].

Fica obvio pelo contexto que os pecados que Tiago estava confrontando tinham se tornados aceitáveis pela Igreja. Tiago ficou tão consternado que ele escreveu essa carta e começou a distribuir esse documento para a Igreja inteira. Então ao invés de ser um “Epistola geral” escrita por alguém com autoridade, a “Epistola de Tiago” é claramente um “Desabafo” expondo os problemas que os pastores e lideres tinham virado as costas e faziam que não viam. Tiago, Ao invés de tomar a prestigiosa posição de “irmão de Jesus”, foi um insurgente, não superficialmente escrevendo contra a hierarquia da Igreja, mas revoltado contra o que a Igreja estava aceitando. Não é difícil de imaginar a repercussão que essa carta causou, originalmente quando foi escrita, entre os ricos e prósperos da Igreja, quando ela não estava escondida no final da Bíblia e desacreditada por vários comentários sobre ela. Apenas imagine o que aconteceria se hoje você chegasse a um templo evangélico no meio de culto e lesse as recomendações da carta de Tiago aos ricos. [Tiago 5.1-3].

PORQUE ENTENDERAM ERRADO?

Então alguém pode perguntar, “Então se Tiago era mesmo um insurgente fora do clero no segundo século, “de cara” com os pecados que a Igreja estava tolerando, porque a maioria das pessoas não viam do mesmo modo, e como essa carta se tornou parte da Bíblia?”

A segunda questão é fácil de responder: Tiago é parte da Bíblia porque sua carta é quase que inteiramente uma repetição dos ensinamentos de Jesus. Essa carta tinha que ser canonizada porque é completamente ortodoxa. A primeira questão precisa de uma explicação melhor.

Você se lembra que alguns estudiosos diziam que os pecados que Tiago estava relatando poderiam ser encontrados em qualquer década na história da Igreja. Existe uma Razão para essa idéia: Admitir que difamação, favoritismo, contendas e divisões entre ricos e pobres não eram parte do cotidiano da Igreja no primeiro século traria a tona uma pergunta muito desconfortável: Porque essas coisas vem fazendo parte do cotidiano da Igreja através do resto da história Crista?

É muito conveniente, e até confortante, dizer que Tiago era o “irmão de Jesus” escrevendo em 45 d.C. Isso significaria que as obras da carne [Gálatas 5] estavam infiltradas na Igreja menos de uma década depois de sua fundação. E se o próprio irmão de Jesus não poderia fazer nada além de dizer “não é conveniente que essas coisas sejam assim” [Tiago 3.10], então o resto de nós também não poderia fazer nada, e isso tiraria nossa responsabilidade, não é verdade? Se esse é o jeito que sempre foi, então sempre será assim, porque os desejos da carne são muito fortes e a natureza humana é muito pecadora para fazer alguma coisa sobre isso. A conclusão óbvia que chegamos então ao longo dos séculos é que “Porque somos pecadores e maus por natureza, tudo o que podemos fazer é ter fé em Deus e esperar até irmos para o céu.”

A maioria das pessoas estão contentes com essa idéia e acobertam esse “segredo sujo” de que a Igreja “Caiu” da verdadeira fé por volta do fim do primeiro século. A maioria das pessoas não vêem o fato de que Tiago nos alertou duas vezes, que fé sem obras é morte [Tiago 2.17,26] e que essa fé é vã e inoperante [Tiago 2.20], e que essa fé vã não pode salvar uma pessoa [Tiago 2.14].

As pessoas concordam que nenhum homem pode domar sua língua [Tiago 3.8], mas se esquecem do comentário de que se o homem deixar de refrear sua língua, então a sua religião é vã [Tiago 1.26].

Mas nem todas as pessoas pensam assim. Martinho Lutero não pensava. O que Tiago falava sobre refrear a língua irritava Lutero, porque ele era um que não conseguia refrear-la. O que Tiago disse sobre Obras serem provas de Fé especialmente irritava Lutero, porque ele criou a teoria de que “a Fé sozinha” é tudo que Deus requisita para nossa salvação. E é por isso que Martinho Lutero não considerava a Epistola de James e a chamava de “Epistola de Palha”.

Espero que você, que está lendo esse post, seja tão perceptivo quanto Martinho Lutero, mas ao invés de rejeitar o que Tiago tinha a dizer sobre obras, você entenda quais são as implicações que essas obras contêm. Considere o que aconteceu com a falsa fé que tomou conta da Igreja nos dias de Tiago, e que falhou em produzir as “obras de amor” que eram normais entre os discípulos quando a Igreja começou no livro de Atos.

Os frutos dessa falsa fé não ficaram piores através dos últimos 19 séculos, em meio à reforma e contra reformas e inúmeras divisões de denominações? A fé que vem sendo passada para nós por “Religiões organizadas” geração após geração, não é nada diferente do que a falsa Fé que Tiago estava expondo na sua carta, uma Fé que não salva.

Apenas quando nos tocarmos disso, teremos alguma esperança de nos livrarmos dessa “Religião vã” aonde essa tal “fé” é a norma. Temos que voltar a ter a verdadeira fé, que causa alvoroço por todo o mundo [Atos 17.6].

Compartilho este exímio estudo com nosso irmão Carlos Eduardo (Jota).


Vivendo Por, Em e Para Cristo; nos interesses da Igreja que Cristo edificou.
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Conhecendo a Bíblia - Salmos

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O Livro de Salmos é uma compilação de diversas coleções antigas de cânticos e poesias próprias para o uso tanto no culto congregacional quanto para a devoção particular. Em algumas coleções, os compiladores antigos reuniram a maior parte dos maravilhosos cânticos de Davi. Em outras, eles coletaram salmos de uma variedade de autores, como Moisés, Asafe, Hemã, os filhos de Corá, Salomão, Etã e Jedutum. Muitos são de fonte desconhecida. Os estudiosos judeus os chamam de “salmos órfãos”.

O Salmos, considerados individualmente, podem ter sido escritos em datas que vão desde o êxodo até a restauração depois do exílio babilônico. Mas as coleções menores parecem haver sido reunidas em períodos específicos da história de Israel: o reinado do rei Davi [1Crônicas 23.5]; o governo de Ezequias [2Crônicas 29.30]; e durante a liderança de Esdras e Neemias [Neemias 12.24]. Esse processo de compilação ajuda a explicar a duplicação de alguns salmos. Por exemplo 14 é similar ao 53.

O Livro dos Salmos foi editado em sua forma atual, embora com diversas variações, na época em que a Septuaginta Grega foi traduzida do hebraico, alguns séculos antes do advento de Cristo.

Os textos Ugaríticos, quando contrastados com os recentes escritos do mar Morto, mostram que as imagens, o estilo e o paralelismo de alguns salmos refletem um vocabulário e estilo cananeus muito antigos. Assim, o Livro dos Salmos reflete o culto, a vida devocional e o sentimento religioso de cerca de mil anos da história de Israel.

TEXTOS UGARÍTICOS

As escavações feitas em Ugarit (atual Ras Shamra, ao norte da Síria moderna) revelaram uma série de tabuletas em argila, contendo textos datados de cerca de 1400 a.C. a 1350 a.C.Até então muito pouco se sabia sobre a cultura ugarítica e ,embora sua mitologia possua muitos elementos em comum com os mitos da Mesopotâmia, os textos ugaríticos revelam uma série de elementos particulares.

Além da correspondência real para os monarcas vizinhos, a literatura ugarítica dos tabuletos encontrados nas bibliotecas locais incluem textos mitológicos escritos numa poesia narrativa, cartas, documentos legais tais como compra e venda de terras, alguns tratados internacionais, e uma grande quantidade de listas administrativas. Fragmentos de diversas obras poéticas foram identificadas: a "Lenda de Kirtu", a "Lenda de Danel", os contos de Ba'al que detalham os conflitos de Baal-Hadad com Yam e Mot, além de outros fragmentos.

A descoberta dos arquivos ugaríticos teve grande importância para o estudo bíblico, pois estes arquivos forneceram pela primeira vez uma descrição detalhada das crenças religiosas canaanitas durante o período diretamente anterior à colonização israelita. Estes textos mostram paralelos significativos com a literatura hebraica bíblica, particularmente nas áreas do imaginário divino e da forma poética. A poesia ugarítica tem diversos elementos encontrados posteriormente na poesia hebraica: paralelismos, métricas, e ritmos. As descobertas de Ugarit levaram a uma nova apreciação do Velho Testamento como literatura.

O título hebraico deste livro, Sepher Tehillim, significa “Livro de Louvores”. Os títulos gregos, Psalmoi ou Psalterion, denotam um poema que deve ser acompanhado por um instrumento de cordas. Entretanto, o Saltério contém mais do que cânticos para o templo e hinos de louvor. Ele inclui elegias, lamentações, orações pessoais e patrióticas, petições, meditações, instruções e tributos em acrósticos sobre temas nobres.

Em sua forma final no cânon das Escrituras, o Livro dos Salmos é subdividido em cinco livros menores. Cada livro é uma compilação de diversas coleções antigas de cânticos e poemas. Uma doxologia apropriada foi colocada pelos editores no final de cada livro:

Livro I [Salmos 1-41], a maioria dos cânticos é atribuída a Davi;

Livro II [Salmos 42-72] é uma coleção de cânticos por, de, ou para os filhos de Corá, Asafe, Davi e Salomão; nessa coleção, quatro escritos permanecem anônimos;

Livro III [Salmos 73-89] é marcado por uma grande coleção de cânticos de Asafe. Asafe foi o chefe dos cantores do rei Davi (1Crônicas 16.4-7);

Livro IV [Salmos 90-106], embora a maioria dos salmos não tenha os seus autores citados, Moisés, Davi e Salomão também colaboraram;

Livro V [Salmos 107-150] registra-se vários cânticos de Davi, também está neste Livro V, a série de cânticos chamada de Hallel Egípcio (Salmos 113-118). Os cânticos finais nesse livro [Salmos 146-150] são conhecidos como o “Grande Hallel”. Cada cântico começa e termina com a exclamação hebraica de louvor, “Hallelujah!”.

Doxologia, expressão de louvor a Deus, no Novo Testamento emprega-se “bendito” (Mateus 21.9; Romanos 9.5; 2Coríntios 1.3; Efésios 1.3; 1Pedro 1.3) e “glória” [Lucas 2.14; Romanos 11.36; 1Timóteo 1.17; 1Pedro 4.11; Apocalipse 7.12].

Títulos informativos são encontrados no começo de muitos dos salmos. A preposição hebraica usada em muitos títulos pode ser traduzida de três maneiras: “a”,”para”, e “de”. Ou seja, “dedicado a”, “para o uso de” e “pertecente a”. Todos os títulos que descrevem a situação histórica do salmo tratam da vida de Davi. Os salmos 7, 34, 52, 54, 56, 57, 59 e 142 referem-se aos eventos ocorridos durante o problemático relacionamento de Davi com Saul; os Salmos 3, 18, 51, 60 e 63 cobrem o período em que Davi reinou sobre Judá e Israel.

Outros títulos precedentes aos salmos referem-se aos instrumentos usados no acompanhamento; a melodia ou música apropriada; que parte do coral deve guiar (por exemplo, soprano, tenor, baixo); ou que tipo de salmo é (por exemplo: meditação, oração). Alguns dos significados destas anotações musicais e litúrgicas são hoje desconhecidos.

Poesia Hebraica. Em lugar de rima de sons, a poesia e o cântico hebraicos são marcados pelo paralelismo, ou rima de idéias. A maioria do paralelismo é dística que expressam pensamentos sinônimos em cada linha [36.5]. Outros são antíteses, em que a segunda linha expressa a negativa da linha precedente [20.8]. Também há dísticos construtivos ou sintéticos, os quais tendem a adicionar ou a fortalecer um pensamento [19.8,9]. Alguns poucos paralelismos são causais, apresentando a justificativa da primeira linha [31.21]. As vezes, o paralelismo envolve três linhas [1.1], quatro [33.2,3] ou mais linhas.

O Livro dos Salmos e os princípios de culto que eles refletem atendem a alma do homem e ao coração de Deus, pois é produto da obra do Espírito Santo. Davi, o principal colaborador do Livro dos Salmos, foi ungido pelo Espírito Santo [1Samuel 16.13]. Essa unção não foi apenas pra o reinado, mas para o oficio de profeta [Atos 2.30;] e as suas afirmações proféticas foram feitas pelo poder do Espírito Santo [Lucas 24.44; Atos 1.16] Na verdade, as letras desses cânticos foram compostas por inspiração do Espírito Santo [2Samuel 23.1,2], como também os planos de escolher maestros e corais com orquestras de acompanhamentos [1Crônicas 28.12,13].

Portanto, os Salmos são únicos e imensamente diferentes das obras de compositores seculares. Ambas podem refletir a profundidade da agonia experimenta pelo espírito humano atormentado, com toda a sua comoção, e expressar a alegria extasiante da alma libertada, mas apenas os Salmos chegam a um plano superior através da unção criativa do Espírito Santo.

Relatos específicos mostram que o Espírito Santo opera criando vida [104.30]; que acompanha fielmente os crentes [139.7]; que guia e instrui [143.10]; que sustem o penitente [51.11-12].


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